Estado - um tipo de matéria abstrata, nula, e ausente - em alguns casos.
Eu gostaria que todos pudessem fazer alguma coisa por si e pelos demais. Há pessoas totalmente sadias. Há outras com algumas restrições físicas, outras com impossibilidades psíquicas. Há gente demais. Da mesma forma que alguns seres procuram o topo de uma árvore para ter acesso à luz solar, outros, por sua vez buscam sua sombra pra se refugiar. Do mesmo modo que alguns insetos cortam as folhas dessa mesma árvore para alimentar sua colônia, outros chegam e batendo suas asas ajudam a polinizar para gerar novos frutos, novas sementes, e assim também, a possibilidade de nova vida, de novo... Esse é o retrato da vida na natureza. Mas, nem tudo é assim.
Semelhantemente, na sociedade humana podemos encontrar todas as formas de atitudes e reações efetivamente em ação; e também podemos imaginar na real possibilidade de novas ações e atitudes estarem sendo pensadas, preparadas, e gestadas por mais seres humanos. Muitas pessoas trabalham muito, são exploradas, e mal pagas. Outras trabalham pouco e recebem salários razoáveis. Algumas nem trabalham e o salário que recebem é demasiadamente superior ao que merecem. Há aquelas que vendem alguma coisa, há outras que compram. Umas vendem prazer, outras compram o prazer. Algumas só olham e outras cheiram. Algumas para se perceberem vivas usam pó de cheiro, outras para dar sentido à vida usam pó de cheirar. Muitas ficam doidas pra ter as coisas, e outras ficam muito doidas por ter o que cheirar.
Mas, como diria Robert Frost, há uma "estrada não tomada". Uma via que os criminosos sabem como fazer para chegar, e o Estado sabe onde pisar, mas não tem interesse em chegar até lá.
Local onde o Estado não alcança, é lá que toca outra música e nesse ritmo sem lei é que o cidadão mais carente dança. Uma música composta ao som de armas de fogo e sirenes de ambulâncias e carros blindados dos representantes do Estado.
Para Charles Darwin a evolução das espécies é um fato. Os seres vão se adaptando e se acomodando para melhorarem a vida buscando a melhor forma de resolverem suas necessidades. Quando eu era criança lá em Rodrigues Alves, um pequeno e jovem município do Acre, eu costumava ouvir, inclusive de minha mãe, um provérbio que metaforicamente pode ser aplicado à presença ou ausência do Estado e que dizia algo mais ou menos assim: "quando o dinheiro deixa de entrar pela porta da frente, o amor sai pela porta dos fundos." Adaptando para a conjugação simbiótica de cidadão e Estado, podemos dizer que "quando o Estado deixa
de dar assistência aos seus cidadãos, o poder paralelo e por vezes mais presente e mais organizado, chega na vida desses mesmos cidadãos e os torna partícipes de uma relação carente e viciada. Carente de serviços e ações concretas estatais; viciada pela oferta imediatizada de bens, produtos, serviços. Alguns lícitos e mantenedores da vida; outros, nocivos e causadores de dores e perversidades inumeráveis e sem fim.
O Estado é uma entidade abstrata que se materializa na ação e atitude das pessoas e bens que o compõem. O cidadão é sujeito e objeto do Estado. Este precisa receber do cidadão sua força de trabalho convertida em impostos, tributos, e trabalho. O cidadão, por outro lado, tem o direito de receber a contra-partida do Estado no oferta de serviços e demais ações que possam facilitar sua vida. Educação, Saúde, e Segurança. Creio e defendo que possa e deva ser nessa ordem. Se tivermos acesso à Educação, saberemos cuidar de nós e dos nossos familiares e demais cidadãos; tendo o conhecimento necessário para tocar a vida em frente, a Saúde se torna mais fácil se observada e mantida - saberemos até que deveremos escovar os dentes após as refeições. Por sua vez, a Segurança passa a ser uma ação interativa de todos. Todos se ajudam e se protegem. Com Educação, Saúde e Segurança chegam como resultados.
O Universo como um todo é um emaranhado de matéria e vácuo sem razão de ser ou existir. A Via Láctea, que é a galáxia na qual se encontra o nosso sistema solar, abriga mais de DUZENTOS bilhões de estrelas. O Estado Brasileiro tem sido ao longo desses últimos quinhentos anos algo similar ao Cosmos. Uma bolha enorme sem razão de existir. Não sobe correta e respeitosamente os morros e favelas das nossas cidades. Os criminosos sobem e cooptam. O Estado não usa os recursos financeiros nem pessoais para implementar políticas corretas e eficazes de Educação. Os representantes do crime educam e forjam as regras pelo poder de fogo que dominam. O Estado não forma profissionais em quantidades necessárias para dar assistência à Saúde, o poder paralelo extirpa a dor a custa de bala. O Estado não contrata e nem qualifica correta e eficazmente os seus representantes da Segurança, os criminosos minuciam seus comparsas com armas de grande poder destrutivo.
O Estado é abstrato; os criminosos são concretos. O Estado não sobe as ladeiras dos morros; os criminosos, aparentemente mais organizados, estão lá.
Quando se segue uma determinada rotina de atividade, o resultado é quase sempre previsível. É algo quase matemático.
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